segunda-feira, 20 de julho de 2009

LINEARIZAÇÃO, COGNIÇÃO E REFERÊNCIA: OS DESAFIOS DO HIPERTEXTO - Marcuschi

Por Danilo Alves da Silva

1. Noção de hipertexto
> O termo hipertexto foi cunhado por Theodor Holm Nelson em 1964, para referir uma escritura eletrônica não-sequencial e não-linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um numero praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real.
> O hipertexto caracteriza-se, pois, como um processo de escritura/leitura eletrônica multilinearizado, multisequencial e indeterminado, que, segundo Snyder (1991:10), introduz um novo "espaço de escrita", que ele caracteriza como "escrita eletronica", tendo em vista a tecnologia de base.
> Pode-se dizer que o hipertexto pertuba nossa noção linear de texto rompendo a estrutura convencional e as expectitivas a elas associadas (Snyder, 1997:17).
> Ao permitir vários niveis de tratamento de um tema, o hipertexto oferece a possibilidade de múltiplos graus de profundidade simultaneamente, já que não tem sequencia e topicidade definida, mas liga textos não necessariamente correlacionados.
2. Texto e hipertexto
> Para Perfetti, a questão central não esta em discutir qual a relação entre texto e hipertexto e sim em admitir que se trata de textos. A indagação seria "como os leitores usam os diferentes tipos de informação e a ordem em que elas são usadas" (p. 158)
> Sabemos que uma das idéias centrais da atual linguistica de texto é a da não monolicitidade de sentido do texto, já que o texto é uma proposta de sentidos múltiplos e não de sentido único. Também se postula hoje que o texto é plurilinear na sua construção.
> Neste sentido, imagino que as teorias, tal como as conhecemos, auxiliam na compreensão do funcionamento do hipertexto. A inovação trazida pelo hipertexto não está no uso especifico da lingua enquanto atividade sócio-cognitiva, mas na sua apresentação virtual, resolvendo em parte o dilema proposto por Beaugrande (1997) entre o virtual e o real.
3. Redefinição de autor e leitor
> Segundo observa Snyder (1997), " o hipertexto obscurece os limites entre leitores e escritores", já que ele é cosntruído parcialmente pelos escritores que criam as ligações, e parcialmente pelos leitores que decidem os caminhos a seguir.
> Com o hipertexto, muda a noção de autor e de leitor, dando a impressão de uma autoria coletiva ou de uma espécie de co-autoria. A leitura se torna simultaneamente uma escritura, já que o autor não controla mais o fluxo da informação. O leitor determina não só a ordem da leitura, mas o conteúdo a ser lido.
4. A não-linearidade hipertextual
> Apontada como a caracteristica mais importante do hipertexto, a não linearização sugere descentração, ou seja, inexistência de um foco dominante.
> Diante deste quadro, suponho que o hipertexto, mais do que um desafio à tradicional noção de linearização é um evento adequado para se rever a noção hoje ainda praticada na linguistica quando se fala em linearização.
> Aspecto importante da não-linearidade é o que diz respeito à natureza da escritua que o hipertexto propicia. Ela não é comandada por um único autor nem é determinado concretamente. Pode-se acessar textos de autores diversos e temas variados, desde que se queira aprofundar um dado elemento.
5. A noção de relevância mostrada
> Tal como tratada por Sperber e Wilson (1986), a relevância é um tipo de relação de pertinência pragmática ou cognitiva e não envolve alguma condição determinista ou casual. Tem como caracteristica básica a inferenciação (seja cognitiva ou situacional) gerada num sistema de expectativas.
> "Mostração" é a alma da navegação hipertextual e deve conduzir o leitor-navegador por um caminho de expectativas que não pode fundar-se na subjetividade.
> A noção de relevância aqui tratada nada tem a ver com a noção de relevância tal como definida por Reinhart (1981) e Giora (1985) que postulam relações semânticas imediatas entre enunciados como condição de boa formação da sequenciação discursiva.
6. Organização cognitiva e referencial
> Pode-se caracterizar o hipertexto como uma forma de organização cognitiva e referencial cujos principios não produzem uma ordem estrutural fixa, mas constituem um conjunto de possibilidades estruturais que caracterizam ações e decisões cognitivas baseadas em séries de referenciações não continuas nem pogressivas.
> Ao analisar o papel da coerência no hipertexto, Foltz (1996:114-6) caracteriza-a como " o processo de incorporação de aproposições ao texto base". Para manter a coerência deve haver algum tipo de integração conceitual e temática que não se dá como virtude imanente do texto, mas como proposta do leitor e como ponto de vista organizador.
7. Perspectivas
> A leitura do hipertexto é caracterizada como uma viagem por trilhas. ligam-se nós para formarem-se redes.
> Certamente, um longo e dificil caminho de reflexões se abre por aqui para o enino relacionado à produção e compreensão de textos, tendo em vista que a realidade da produção hipertextual é incontornavel, já que a era digital é um fato

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